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Trabalho, Saúde e Vida - Algo banal?

Morte relacionada ao trabalho



As recentes discussões sobre este tema nos levam a crer que um fenômeno que existe desde há muito voltou ao debate público sobretudo porque poucos, de fato, se importam com a questão. Se a mrte relacionada ao trabalho era, até a década de 1980, restrita a trabalhadores considerados como pertencentes à “classe operária”, hoje não se pode mais afirmar que corresponda aos fatos. Sempre houve um maior risco de mortes, sejam causadas por acidentes de trabalho ou doenças relacionadas ao trabalho para aqueles que estavam expostos às condições de trabalho inadequadas. O foco em questões ambientais e do contato com máquinas e substâncias perigosas era devido ao fato de que essas condições perigosas “gritavam” aos olhos de quem podia enxergar os riscos. Pode-se afirmar que houve e há iniciativas para se reduzir os riscos; iniciativas, que muitas vezes, ficam mais voltadas à implementação de procedimentos de segurança e ao uso de equipamentos de proteção. Não se pode generalizar com relação à efetiva adoção de medidas preventivas ainda mais quando há um problema de competição entre a segurança para se trabalhar, incluindo a prudência e os imperativos da produção, com os determinantes de produtividade.

Todavia, os cenários mais recentes remetem a outros aspectos do trabalho e que se tornaram evidentes quando os adoecimentos se tornaram mais visíveis porque atingiram outros setores da economia e outras classes sociais, que não apenas os mais tradicionais, como os da indústria, da agricultura, da extração mineral, dos transportes. Ao final dos anos de 1980 uma verdadeira epidemia de doenças ligadas ao trabalho surgiu em setores de serviços, como os ligados às atividades bancário-financeiras. Doenças do trabalho, antes restritas às classes operárias, se tornaram presentes na classe média. É importante salientar que essas doenças dizem menos respeito às condições de trabalho e mais à organização do trabalho e ao conteúdo do trabalho. Os métodos de avaliação de desempenho e de controle, as metas de produção, a divisão das tarefas, entre outras, como a própria desregulamentação das relações trabalhistas, tiveram como consequências, entre outras, uma crescente incidência de distúrbios ligados ao trabalho, incluindo os relacionados à saúde mental.

Mesmo que não se possa dizer que haja uma relação direta e inequívoca com um aumento de incidência das mortes, há muitas evidências que os casos, como os de esgotamento ligados ao trabalho, os de suicídio e aqueles conhecidos como os Karoshî, estejam fortemente relacionados a essas questões organizacionais.

De qualquer maneira, mesmo que não se possa fazer relações diretas, fica cada vez mais evidente que os modelos propalados pelo que se conhece como neoliberalismo, tem consequências nefastas com relação às possibilidades de se constituir ambientes de trabalho propícios para a construção da saúde, do desenvolvimento profissional e o fortalecimento das relações interpessoais nas diferentes organizações, sejam elas públicas ou privadas. Nesses dois casos, os modelos de gestão são bastante similares e há uma tendência significativa de se reforçar o isolamento das pessoas no trabalho e a emergência de sofrimento patogênico.

Quando o outro não faz mais parte, quando tudo parece anestesiado, sem vida, onde as sensações de ser descartável e de ser pouco importante imperam; estamos nos aproximando do império daquilo que desestrutura, que desliga, que tende à mortificação, quiçá à própria morte.

Repensar, reestruturar, reelaborar, reorganizar o trabalho é uma questão chave para todos. Considerando-se o trabalho como central na vida dos humanos, há que se pensar e agir para que as instituições e as empresas sejam cada vez mais lugares propícios para um convívio saudável, calcado em valores e tradições das profissões, que estão sempre em desenvolvimento. O fato de haver pessoas que adoecem e morrem por causa do trabalho nos remete a um grande flagelo em nossas sociedades. Compete a nós agirmos para “re”-encantarmos o trabalho, isto é, transformando-o em algo propício para o desenvolvimento das pessoas, a constituição de coletivos, para a construção da saúde, para a sustentabilidade das organizações e para o aprimoramento da cultura!

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